terça-feira, 29 de março de 2011

Música do dia: "Road to Nowhere" - Talking Heads

Como é que este Blog ainda não tem música?

Chega! Andei de roda disto meia hora e não consigo dar a volta. Até conseguir ajuda há-de ficar algo improvisado. Quero ter uma secção dedicada à música, mas não consegui criá-la separada, por isso a estratégia é a seguinte: ir colocando links do youtube, isto até eu me certificar de que o blogspot não suporta uma caixinha à parte para a música.


"Sem música a vida seria um erro".


Nietzsche

Pritzker nunca soou tão bem

Imagem: www.blueprintmagazine.co.uk/.../ Casa-das_r.JPG

Quando os desenhos que compõem os nossos pensamentos não passam de borrões desfocados e descoloridos, eis que há um português que vence o Nobel da Aquitectura: o prémio Pritzker. E que bem que sabe ouvir, ler, tomar conhecimento desta notícia.

O relógio marcava seis da tarde e eu estava parada no semáforo. A TSF "ouvia" Siza Vieira, que comentava o facto. Souto de Moura vencia o Nobel da Arquitectura e eu ganhei um ar fresco cá dentro. Uma espécie de fôlego da alma. Que bom!

Que bom é sentir que é real. Um português foi reconhecido, consagrado. Que bom, numa fase tão limitadora de espírito, saber que alguém do meu país chegou lá. Ao ponto em que o dom, o esforço e o trabalho são premiados: o maior galardão mundial da Arquitectura.

O resto do caminho, fi-lo de alma revigorada. Pelo menos por uns dias.

E Pritzker nunca soou tão bem :)

sexta-feira, 25 de março de 2011

O que é que os professores têm que eu não tenho?

Sim, eu sei. Desde logo estás também a pensar, tu, que não és professor, que não faltam encontrar regalias. Mas nem sequer me refiro às férias a triplicar, além daquelas que têm no Verão, pois esse é um assunto tão batido e curiosamente sempre argumentado pelos professores ofendidos. sim, porque eles têm reuniões e trabalham em casa. Mas quero referir-me ao tema da avaliação!

Hoje, sexta-feira dia 25 de março, dois dias após a demissão do primeiro-ministro, a oposição aprovou a revogação do actual modelo de avaliação dos professores. O PS e o deputado social-democrata Pacheco Pereira votaram contra. Ora, a meio do ano lectivo e depois de meses de intenso diálogo entre sindicatos e governo, a maioria dos deputados portugueses considera que os professores não precisam de ser avaliados.

A minha pergunta é: o que têm os professores que eu não tenho? Porque qualquer português hoje-em-dia é avaliado. Desde a função pública a empresas privadas. E não me venham dizer que o modelo não é o melhor, porque que eu tenha conhecimento não existem modelos de avaliação perfeitos.

Na minha curta carreira profissional, vi colegas a serem avaliados por pessoas que não tinham nem metade da experiência e do seu tempo de serviço na empresa. É duro? Ah pois é. Mas há modelos de avaliação perfeitos? Não creio. Mas tenho a certeza de que uma boa avaliação depende do meu empenho e dedicação no dia-a-dia e do meu esforço que dá paz à minha consciência.

Esta tomada de posição do parlamento, mais do que ser uma medida eleitoralista, é uma revolta! Dentro de mim.

Imagem: puntoblog.it

quarta-feira, 23 de março de 2011

JOSÉ SÓCRATES PEDIU A DEMISSÃO

O que disse José Sócrates:



  •  "Acabei de apresentar a minha demissão ao senhor Presidente da República."

  • "Hoje o país perdeu."

  • "Os que provocaram a crise política são responsáveis pelas consequências."

  • "Sinto que estou a cumprir o meu dever."

  • "Quero dizer aos portugueses que o pais não ficou sem governo."

  • "Tenho confiança na energia, na vontade e na capacidade dos portugueses."

  • "Confio nos portugueses e no seu julgamento."

  • "Agora e como sempre eu confio em Portugal."




A queda está por horas

Não sei como se sentem os portugueses, mas a avaliar por aquilo que vou ouvindo e pelas conversas que mantenho, arrisco pensar que 90 por cento dos portugueses não está ansioso, nem preocupado, nem tão pouco interessado em saber como será amanhã.

Muito provavelmente, este será um dia como tantos outros. Mas para mim, não. Estou ansiosa, preocupada e com medo do que aí possa vir.

Está por horas a queda do Governo. Porque não poderá ser de outra forma. O Parlamento não reúne o mínimo de consenso para que o país possa ser comandado, o primeiro-ministro recusa governar perante este cenário, e o Presidente da república deverá dissolver a Assembleia da República mesmo que José Sócrates não se demita.

Como vai o nosso país aguentar estar até Junho com um governo de gestão? O que será feito das medidas que oiço dizer serem necessárias para que Portugal se mantenha de pé? Onde irão buscar 18 milhões de euros para fazer eleições? Quando é que entra o FMI?

terça-feira, 22 de março de 2011

E agora...?

Morreu o Senhor Artur Agostinho.

É aquele Senhor que, na minha mente, nasce ao mesmo tempo que a rádio. Sempre que ouvi falar de rádio houve sempre qualquer coisa que me levou até ao Senhor Artur, que fazia relatos de futebol.
Este Senhor fez de tudo um pouco na esfera da comunicação. A rádio levou-o à televisão, à publicidade, ao teatro e ao cinema.

Nem mesmo o facto de ser sportinguista conseguia provocar em mim qualquer tipo de sentimento que não fosse bom. Porque até isso eu admirava no Senhor da rádio. A paixão que tinha pelo seu Sporting e a frontalidade com que este locutor sempre o assumiu, mantendo aquela isenção que todos dizemos ter, mas que na verdade...não a temos.

Mas porque o Senhor Artur não é (sim, não é!) uma pessoa qualquer, essa paixão incondicional que tinha pelo clube de alvalade não o impediu de estar presente na Gala de Eusébio, que é só o símbolo vivo do Benfica. O Senhor Artur Agostinho tem aquilo a que chamo de bom fundo, é um coração despido de preconceitos e tem uma mente aberta de fazer inveja a qualquer jovem de qualquer geração. Por isto e muito mais, não teve vergonha de se emocionar numa gala benfiquista e de fazer Eusébio sentir-se pequeno. Em casa, atentamente a ouvir as palavras do sábio Artur, eu chorei.

Este Senhor de 90 anos fazia-me sempre sorrir. Sempre fez! Mas hoje não consigo.

Numa das últimas entrevistas que deu, o Senhor Artur Agostinho disse que era "um dever de todos nós amarmos o outro".

sábado, 19 de março de 2011

Eu quero ir à baixa

Sexta-feira, um dia daqueles que nos faz sorrir, feitos parvos, e um céu azul que em Lisboa parece sempre mais especial. Passeio-me pelo Marquês, após o almoço, mas eis que, vejo-me obrigada a parar pelo sinal vermelho dos peões. Depois de olhar para o senhor enfatiotado, com um ar infeliz e desgastado, que estava à minha frente, sou confrontada com um cartaz. E o que dizia? Vá, não será difícil acertar... : "Manifestação CGTP sábado dia 19".

Dei comigo a pensar o seguinte: "Isto qualquer dia a Câmara Municipal ver-se-á obrigada a colocar uns placares electrónicos com a seguinte informação: Hoje não há manifestação na baixa!

Motivos da "Mánife", aumento do desemprego e da precriedade, em defesa de aumentos salariais. Nós não sabemos se o governo se aguenta até ao mês que vem, o governo não sabe se vai conseguir pagar 13.º mês aos funcionários, mas...tudo bem.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quem é a favor de eleições ponha o dedo no ar!

O desentendimento entre os partidos parece, cada vez mais, conduzir-nos a uma crise política sem retorno e a eleições antecipadas. Alguém sabe quanto isso irá custar a Portugal?

18 Milhões de euros!


Este é o valor estimado pela Direcção Geral da Administração Interna.

Posto isto, alguém é a favor de eleições?







Imagem: www.cmvfc.pt

quarta-feira, 16 de março de 2011

Jornalistas desaparecidos na Líbia


 São jornalistas do NY Times e os quatro têm experiência de jornalismo de guerra. Estão desaparecidos, no leste da Líbia, onde os rebeldes tentam derrubar o regime de Kadhafi. Anthony Shadid, a última fotografia, já venceu duas vezes o prémio Pulitzer.

Esta é, e será sempre, uma profissão de risco! Ao contrário de outras, nesta paixão (leia-se profissão) ninguém paga o merecido para lutar por ideais, para dar liberdade a quem merece, para fazer justiça, para falar do mundo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

José Sócrates: "Ou resolvemos nós, ou outros terão de resolver"

José Sócrates reafirmou que Portugal não deve recorrer a ajuda externa. O primeiro-ministro fez uma comunicação ao país, a partir de São Bento, e começou logo por dizer que "defender Portugal nestas condições significa ganhar a batalha pela confiança" dos mercados financeiros e da União Europeia. Neste sentido, José Sócrates garante que é necessário "reduzir o défice das contas públicas".

Falando para a oposição, o primeiro-ministro frisou que "todos têm de assumir as suas responsabilidades" e referiu que os partidos políticos não deviam ter recebido com surpresa as novas medidas de austeridade. A finalizar, o primeiro-ministro acusou os partidos de não apresentarem medidas alternativas e assim estarão " a desejar uma crise política". Ao contrário do que estava previsto, os jornalistas puderam colocar perguntas.

José Sócrates fala ao País às 20:00 horas

O primeiro-ministo faz uma comunicação aos portugueses às 20:00 horas, altura em que vão para o ar os telejornais. O discurso é transmitido em directo através das rádios e televisões generalistas. Esta tarde o Conselho de Ministros esteve reunido, para reflexão política














Nevão na Madeira

As pessoas que tinham ficado retidas entre o Poiso e o Pico do Areeiro, na Madeira, no passado domingo, foram resgatadas de madrugada. No entanto, as cerca de 65 viaturas ainda se encontram no local. A operação de resgate envolveu duas corporações de bombeiros do Funchal, a Protecção Civil, a Guarda Florestal,  PSP e muitos voluntários.


A Madeira está vestida de branco como há muito não se via. Ao contrário de outros anos, em que cai granizo suficiente para pintar as serras, desta vez a neve caiu a sério e causou constrangimentos. Para muitos madeirenses, o programa do passado domingo foi uma ida à neve e para muitas pessoas o passeio acabou mal. As autoridades desaconselham qualquer tentativa de subida às serras. A estrada entre o Poiso e o Pico do Areeiro ainda está muito insegura e decorrem operações de limpeza.                                                



Foto: DN Madeira

domingo, 13 de março de 2011

Nevão na Madeira retém dezenas de pessoas na serra

Um forte nevão que caiu nas serras madeirenses deixou várias dezenas de pessoas retidas na zona do Areeiro. Uma testemunha conseguiu descer, contactou as autoridades, e as pessoas retidas já estão a receber apoio com cobertores e bebidas quentes. No terreno estão a PSP, os bombeiros, a Protecção Civil e a Polícia Florestal.

A estrada em direcção às serras madeirenses está cortada a partir do Terreiro da Luta, uma zona que ainda pertence ao concelho do Funchal, até ao Pico do Areeiro. Na semana passada também caiu neve nas serras madeirenses, mas a intervenção da Polícia Florestal e da Protecção Civil terá sido mais rápida, uma vez que de imediato a circulação automóvel foi proibida.
Imagem: Miguel Sá

CAB Madeira vence Taça de Portugal

A equipa masculina do Clube Amigos do Básquete conquistou, em Fafe, a Taça de Portugal. A vitória foi frente ao Penafiel por 64-62 e é a primeira vez que a equipa madeirense conquista o título. Este é também o primeiro título conquistado pelo técnico madeirense João Freitas, que em declarações ao Diário de Notícias da Madeira disse que "este é um prémio fantástico para a Madeira".

Greve dos camionistas a partir da meia noite

Os camionistas entram em greve a partir da meia-noite desta segunda-feira, 14 de Março, depois das associações representantes de transportadores de mercadorias e passageiros terem reunido na passada sexta-feira. A greve acontece numa altura em que o preço dos combustíveis atingem valores muito elevados e depois do governo ter anunciado algumas medidas de protecção ao sector.


As empresas de transportes de mercadorias entenderam que as medidas do governo não são suficientes e garantem que há 11 mil empresas em situação de sobrevivência em Portugal. Essas medidas estão relacionadas com o abate de viaturas e com a possibilidade de majoração das despesas com combustível até 140 por cento.


Dependendo do número de dias, esta greve poderá afectar o abastecimento alimentar das várias redes de supermercados, tal como já aconteceu há dois anos.

Portuguesa desaparecida em Sendai

Há uma cidadã portuguesa desaparecida em Sendai, uma região que foi fortemente abalada pelo sismo e tsunami da passada sexta-feira, dia 11 de Março. Vivem nesta zona do Japão.

A embaixada portuguesa já conseguiu contactar com 3 portugueses que residem nesta zona, mas continua sem saber se uma cidadã portuguesa se encontra bem. O embaixador português, José de Freitas Ferraz, já pediu ajuda ao governo japonês e à Cruz Vermelha, mas as comunicações com a região de Sendai estão muito complicadas.

sábado, 12 de março de 2011

Manifestação, porque sim!

Milhares de pessoas desfilam neste momento na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e o termo desfilam não é escrito ao acaso. Assisto à Manifestação da Geração à Rasca há 30 minutos, através da televisão, em estações diferentes, e o filme repete-se. Em muitas dezenas de pessoas que foram entrevistadas, até agora, apenas duas foram capazes de dar justificações plausíveis aos jornalistas pela participação, profissionais da comunicação que insistem sempre em querer saber o que lá fazem as pessoas.

Infelizmente, não me surpreende.

Reforço que: sou a favor da contestação quando ela tem conteúdo, quando sabemos aquilo que estamos a pedir. Não podemos pura e simplesmente atacar a classe política, porque sim. Não podemos pensar que um curso superior é carta branca para um emprego.

Estou solidária com todos aqueles que, de momento, vivem uma situação laboral precária, mas não acho que esta seja a forma de protestar...sem conteúdo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sismo coloca 50 países em alerta

 A agência de notícias Kyodo avança que a catástrofe pode ter feito mais de mil mortos. A cada minuto o Japão vê o número de vítimas crescer.


Há 50 países que correm o risco de serem afectados pelo tsunami que devastou a costa nordeste nipónica, numa área imensa que vai do Alaska até perto da Antártida. As autoridades avisaram a população japonesa de que são esperadas outras réplicas.

Sismo no Japão faz centenas de vítimas


Um sismo de magnitude 8.9 na escala de Richter atingiu hoje o Japão e já se contabilizam 310 mortes. O epicentro ocorreu no mar, a mais de 400 km da capital, Tóquio, e provocou um tsunami no nordeste do País. Este é o maior sismo no Japão dos últimos 100 anos e foi declarado o estado de emergência. Neste momento, há alertas de tsunami para 50 países e entre eles estão a Austrália, Estados Unidos da América, México e Perú.

Na zona mais afectada pelo tsunami vivem 4 portugueses e todos se encontram bem. As sucessivas ondas provocadas pelo tsunami deram origem a imagens impressionantes. As ondas arrastaram casas, barcos, comboios e conseguiram cobrir o aeroporto de Sendai.

Este é o quarto maior sismo já ocorrido em todo o Mundo.

A Manifestação

Eu não tenho conhecimento de que alguma vez, nos últimos 70 anos, tenha existido alguma geração "à vontadinha". A minha avó conta que só comia carne ou peixe quem era rico e o meu pai relembra-me sempre que no tempo dele as pessoas pediam pão porta à porta. 

Parece que os Deolinda terão dado o mote para, de repente, a contestação virar algo tão importante como respirar e para a transfiguração de uma geração rasca. Diz a letra em tom melódico que “para ser escravo é preciso estudar”, mas é a mesma letra que nos diz que “sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta situação”. Se uma frase, um texto, um poema ou uma declaração podem ter interpretações diversas, porque não pode esta letra do “grupo da moda” ser interpretada de uma outra forma?

Amanhã acontece a manifestação da Geração À Rasca, na Avenida da Liberdade, em contestação à actual situação do País e pela demissão da classe política. Mas a contestação deverá ser sinónimo de anarquia? Devem os portugueses ambicionar um regime apartidário? Haverá, certamente, outras formas de entoar a insatisfação social. Mas transfigurada que está esta geração, que passou a ser apelidada de “à rasca”, existem razões extra políticas que podem de alguma forma dar vida ao novo termo. Os actores principais da geração à rasca são os mesmos da geração rasca que quiseram comprar dois carros, em vez de um; os que compraram casa recorrendo ao crédito bancário com um valor muito superior ao valor do imóvel; os que fizeram três grandes viagens por ano, em vez de pensarem no PPR, e não faltariam exemplos de tomadas de decisão que não tiveram em conta a receita para aplicar a despesa, que no fundo, é certo, terá sido o mesmo que o Estado fez.  Mas já diz o provérbio, “faz o que eu digo...”.

A contestação não deve, nem pode, ser livre de auto-análise e não devemos, mas pelos vistos até podemos, desencadear uma desenfreada contestação sem primeiro perceber a causa. O objectivo da manifestação é levar 1 milhão de pessoas à Avenida da Liberdade, em Lisboa, com o compromisso de cada contestatário levar uma folha A4 com as razões da revolta. Não será difícil adivinhar que serão mais as pessoas do que folhas de papel, isto se tivermos presente que cada vez que se pergunta a um manifestante o que o levou àquela manifestação das duas uma: ou ficamos mais confusos ou pura e simplesmente há ausência de resposta.

Os ordenados são baixos, são. Acabaram os pagamentos de horas extra, acabaram. Há mais precariedade laboral, há. Mas por isso é que António variações já dizia: “Quando a cabeça não tem juízo e tu não sabes mais do que é preciso, o corpo é que paga”.

Sou a favor da contestação, mas não creio que neste caso estejamos a ser coerentes. Hoje, são quase sempre mais os direitos que se reivindicam do que os deveres que se têm em conta num espaço laboral. O País precisa de todos nós. Da nossa garra, vontade de produzir, capacidade de inovação.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Era uma vez...


Pediram-me que escrevesse sobre uma palavra e eu decidi escrever sobre ti. Dentro dos mais variados significados que possas assumir, num deles em particular és de tal ordem módico que mesmo estando lá parece que apenas passamos por ti e não te olhamos de facto. Mas essa modéstia que te caracteriza apenas determina o teu lado mais primário, a tua aparência física, se assim lhe podemos chamar. És delicado. A tua suavidade de forma é tão evidente que, apesar de já te teres afirmado por cinco vezes neste parágrafo, não deixas de estar associado a uma discrição indelével.

Mas a tua essência é tão mais abrangente e dominante. Tu, que podes introduzir algo ou alguém. Tu, que consegues criar admiração. Tu, com a tua entoação, que és capaz de fazer reflectir. Falo de ti, ponto.  Foi o latim que te ergueu, a partir da palavra punctum, e que apenas te atribuía um sentido: picada, buraco feito por uma picada. Hoje comportas uma multiplicidade de significados e eu decidi começar por aquele que determina o fim e o começo das frases e pelo qual Saramago não reúne grande estima.

É agora! Agora é que é. Chegou a altura em que tudo se decide e tu assumes um papel de destaque. Consegues ser mais mediático do que os próprios jogadores que estão no court. As atenções estão todas centradas em ti, na expectativa que és capaz de gerar antes mesmo de te consumares. O ponto decisivo que “mata” o set e o jogo e dá a vitória a um de dois lados. És atingível, mas a acessibilidade à tua conquista pressupõe uma grande determinação de quem te persegue. Não te fazes vulgar, mesmo tendo presente que é a tua multiplicação que dá sentido à acção.

És silêncio, mesmo que momentâneo, quando nos fazes descansar no meio de uma estória empolgante que aos poucos parece tomar a nossa respiração. Determinas, pela tua imposição escrita ou oral, que a discussão deixa de progredir e cala-se. Acabas sempre por ser chamado às dramáticas discussões conjugais: “e ponto final”. És imperativo. Tens um carácter finito e tudo o que possa ser abrangido pela expressão “nunca mais”, como pode ser o caso, acaba por originar um sentimento de perda e de ausência de controlo que quase nunca conseguimos exprimir em palavras.

Mas, de repente, consegues transformar-te e assumes a faceta conciliatória. És a harmonia perfeita onde duas linhas se encontram. Elas podem adoptar as mais variadas formas, serem irregulares, mas perante ti são um só. Forças diferentes que se unificam na tua plenitude. E desta harmonia seguimos para uma nova aventura. Porque tu tens esta capacidade de ser rei e senhor do caminho a seguir: o ponto de partida. Mas porque a tua estória já vai longa, dado eu ter duas páginas para te explorar, partilho contigo as minhas memórias preciosas.

Ainda hoje consigo sentir o cheiro da lareira. Faz frio e a sensação é muito boa. À mercê do “petromax”, os adultos fazem brindes de festa e eu, pertencente ao grupo das crianças, pergunto as horas de dez em dez minutos. Mesmo ali em frente, numa das esquinas da sala, estão os presentes aos pés da árvore decorada a preceito.  É meia noite e estamos no ponto mais alto da ilha. Ano após ano, foste sempre o escolhido: o ponto mais alto.

“Desta vez é que é, Avó!” Esta era a frase dita por mim e que introduzia mais uma partida. O jogo de cartas preferido da minha Avó: a Bisca. Chega o ponto da situação, que o mesmo é dizer fazer contas, e era só somar: ponto atrás de ponto, atrás de ponto...e o jogo terminava com a gargalhada singular.

Sempre dei comigo a pensar: “como irei eu um dia conseguir saber fazer isto tudo”? Pois se a minha Avó e a minha Mãe o sabiam, partia do princípio de que essa teria de ser uma qualidade minha. Ponto de tricô, ponto de croché, ponto cruz. No entanto, as coisas mudaram ao ponto de estas habilidades deixarem de ser essenciais e confesso: a minha puerícia teria agradecido saber disto mais cedo.

E como poderia eu esquecer-te, se todas as manhãs me esperavas? A cada nascer do sol palavras diferentes. De dia para dia as frases ganharam sempre outra vida. Não eras protagonista, mas sempre que me faltavas, o desenrolar da peça era outro. Como poderia eu esquecer-te, teleponto.